Carta-Poema 1O - Carta número 4
Ouça:
https://www.letras.mus.br/jose-miguel-wisnik/384622/
“É madrugada
no morro do Bixiga, a raça dorme em paz, mas cá em baixo...” É esta canção que
me acompanha hoje. A canção, No morro da
casa verde de Adoniran Barbosa foi transcriada por Zé e os músicos do
Oficina nos anos 90 e que está em Bacantes.
Amanhã será primavera e flores lindas nascerão. Acredito que quando estou em
cena é quando posso dar o melhor de mim, me doar em maravilha para a obra e
para o público. É a potência máxima do ser, irradia em esplendor. É o belo da
obra que nem sempre vai ser bonito, mas artisticamente é uma maravilha dourada.
Aprendi a passar segurança em cena, irradiar vibrações por todo o espaço. Ainda
tenho muitas limitações que preciso trabalhar para transformar. Existe uma zona
de conforto, mas ultimamente tenho me colocado em equilíbrio precário, em
lugares que não tenho tanta experiência, por que assim sinto que vou crescer
como atriz, como artista. Vivo muito a cena na vida pessoal que é transformada
a cada processo, assim crio sub-textos, busco nuances para voz, interpreto a
partir dos sonhos. Nos meus sonhos tudo se mistura e em muitos deles tenho
revelações que consigo colocar na cena. Decidi ser atriz aos 11 anos após um
sonho e dois meses antes de entrar no Oficina sonhei com Zé me dirigindo em
Bacantes. Não posso negar que meus sonhos além de revelações, me presenteiam e
também me trazem inúmeros temores, quando abro o coração para interpretação, um
universo de possibilidades se abre. Tenho muitas coisas em minha atuação que
desejo melhorar e talvez tenho que mudar radicalmente para evoluir, ainda não
encontrei o fio, o caminho, mas já busco minhas pistas e sei que preciso
trabalhar a voz, o canto, a palavra falada, cantada, novas maneiras de dizer o
texto-poesia. Sinto minha voz ainda técnica, como Zé outro dia me disse:
-
Você fala correto demais, traga mais sua voz para o popular.
Sinto que
isso vem dos estudos da época da faculdade, absorvi muito um “jeito” de falar o
texto, uma melodia padrão talvez, sem deixar passar nenhuma sílaba, mas não sei
se para esta fase de minha vida artística isso é tão relevante. Antes me sentia
insegura em relação ao texto, como minha voz fazia soar o texto, como chegava
no público, mas percebo que se o atuador está conectado ao roteiro de cenas, ao
trabalho de preparação e criação, ao trabalho corporal-vocal e está presente em cena, ele já está
trabalhando em suas dificuldades e assim fazendo sua atuação ter mais segurança
para transmitir ao público o que se deseja. Em breve amanhecerá e você irá
florir. Xêro.
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