Carta- Poema - Carta número 1
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Ió. Que linda
manhã de verão. Fico orgulhosa ao me ver aqui. Eu conheci o Teat(r)o Oficina em
2007 quando uma grande amiga que já virou estrela, me convidou para assistir ao
espetáculo Homem I de Os Sertões, obra de Euclides da Cunha
antropofagiado e transcriado pelo Oficina. Quando vi o espaço de atuação fiquei
muito impressionada, mas quando o espetáculo começou eu tive uma das grandes
revelações artísticas de minha vida. Presenciei um espetáculo-rito onde abri a
percepção, ali vi e senti a verdade cênica, vontade, fé cênica e presença.
Naquela época eu
tinha apenas sete anos de teatro, estava na universidade fazendo Bacharelado em
Artes Cênicas após ter feito licenciatura em Teatro, atuei em dois grupos:
Grupo de Teatro Finos Trapos que fui membro-fundadora e que continua em
atividade. Este foi fundado com artistas de Vitória da Conquista-BA que já se
conheciam de outros grupos de teatro; Grupo Os 50tões formado por alunos do
curso de graduação em Interpretação em Artes Cênicas da UFBA. Pesquisas
diferentes, cada qual com suas buscas estéticas e desejos. Eu sempre tive a
sensação de que estava de passagem, tinha a vontade de morar no Rio de Janeiro,
pois além de ter um campo artístico aberto tinha mar, água salgada, água de
Iemanjá. Muitas possibilidades, possíveis oportunidades, um lugar lindo, se
fosse sair da Bahia iria pra lá. Bem, depois que vi os quatro espetáculos de Os Sertões tudo mudou. Aquela semana
parecia um carnaval, havia uma alegria contínua, energia, vibração e eu estava
sentindo tudo aquilo no teatro. Com o Oficina via a possibilidade de dizer, de
ser-estar no presente e conectada com a multidão. Acredito na potência do
teatro de estádio, teatro para multidões como o carnaval, como o futebol que
são paixões mundiais. Um teatro ritual, um teatro que se pauta na presença no
aqui agora, senti naquele momento que precisava estar no Oficina, senti que era
necessidade artística, tive vontade de embarcar com a Cia, mas sabia que
precisava de tempo para me preparar, como se prepara um alimento antes de
devorar.
Saí de Salvador,
mas nunca abandonei minha terra. Fui até a praia do Porto da Barra e pedi a
benção pra Iemanjá e disse:
- Eu vou pra
todo ano poder voltar.
Sempre quando
vou à Bahia, vou em Salvador, no mar, agradeço a Iemanjá e peço a benção e vou
para Vitória da Conquista, retorno ao útero-coração de Mainha, minha primeira
casa. Me recarrego no aconchego, no colo, revejo memórias, escuto os ecos da
minha experiência e sigo. Agora preciso ouvir e cantar as canções para ensaiar
mais tarde. Um beijo.
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